quarta-feira, 28 de outubro de 2009

VIGARISTAS DO CAMPO VÃO AJUDAR MINC A CUMPRIR META DO CARBONO

O ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, finalmente descobriu que os produtores rurais brasileiros podem ser os grandes aliados do país, e não os vilões, na verdadeira guerra que o mundo começa a travar contra o aquecimento global. O ministro que adora bater boca com seu colega Stephanes (Agricultura) e soltar frases histriônicas na mídia ("produtor rural é tudo vigarista"), ontem estava eufórico com um estudo elaborado pela Embrapa sobre redução dos gases de efeito estufa.

Mais do que qualquer setor da economia, a agropecuária têm nas mãos tecnologias extremamente eficientes, baratas e agéis para contribuir com a meta brasileira de cortar as emissões em 40% até 2020. De acordo com os pesquisadores da Embrapa é possível evitar a emissão de quase 200 milhões de toneladas de gases-estufa com a implantação do sistema de integração lavoura-pecuária em 10% das áreas de pastagem do Brasil, a recuperação de apenas 10% das terras degradadas (a maioria em fazendas de pecuária) e a extensão do chamado plantio direto. É bico para a agropecuária.


PLANTIO DIRETO NA PALHA
Um estudo do professor Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, da Esalq, já comprovou que Os atuais 26 milhões de hectares que utilizam o plantio direto no Brasil são responsáveis pelo sequestro de pelo menos 13 milhões de toneladas de gás carbônico
por ano. No plantio direto, a palha e os resíduos vegetais da cultura anterior são deixados no solo, o que ajuda a reter na terra uma grande quantidade de gases estufa, como o carbono e o metano, além de evitar a erosão.

"Existe três vezes mais gás carbônico fixado no solo do que na atmosfera. Se o solo não for manejado de forma adequada, esse carbono é liberado e contribui para o aquecimento global", explica Cerri. Por conta das pesquisas nessa área, Cerri ganhou o prêmio da Fundação Bunge deste ano.

"A agricultura tem sido apontada como uma vilã do meio ambiente, mas existe tecnologia para minimizar o impacto ambiental das culturas. Basta que isso seja aplicado em maior extensão em todo o país", diz Cerri. Mas o professor ressalva: mesmo com técnicas sofisticadas de manejo do solo, a conversão da floresta em culturas como soja não traz benefícios ambientais. Isso porque, enquanto o plantio direto permite a fixação de 0,5 tonelada de gás carbônico/ano, a floresta tropical em pé tem o poder de fixar 60 toneladas de CO2/ano. "Mesmo com plantio direto, a conversão de áreas de floresta para agricultura é danosa. Por isso é preciso fazer melhor uso das áreas já degradadas, como pastagens", diz.


INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA
Aí entra a integração lavoura-pecuária, defendida pela Embrapa. Pedro Arraes, presidente da Embrapa, diz que existe uma oportunidade muito forte na recuperação de áreas degradadas. Se a gente conseguir incluir a integração lavoura-pecuária dentro do mercado de carbono será muito importante para se financiar a recuperação de terras degradadas e evitar o desmatamento.

Mas não é uma tecnologia cara?

"Quando você usa a lavoura, não é. Há necessidade de o produtor ter uma estrutura mínima. Geralmente o agricultor é quem aproveita melhor o sistema de integração lavoura-pecuária. Ele planta a pastagem para fazer cobertura do solo e produzir um
pouco de carne e leite na época da seca. Este pessoal tem a cabeça mais aberta. Você planta soja, depois planta brachiária[pastagem] e mantém aquela área coberta, e na safra de milho aquela área vai servir como matéria seca para o plantio direto.
Os pecuaristas são mais conservadores e não têm máquinas para adotar este sistema de integração", já disse o presidente da Embrapa neste blog.Segundo ele, a lavoura custeia o pasto, e o pecuarista mantém duas cabeças por hectare, enquanto que na área degradada a lotação é de 0,4 animal por hectare.

PEIDO DO BOI POLUE MAIS QUE CAMINHÃO

O estudo da Embrapa apresentado ontem pelo ministro Minc mostra que entre entre 1994 e 2007 houve um avanço de 28% na emissão de gases-estufa, boa parte devido aos arrotos (e peidos) dos 206 milhões de bovinos que existem no país. O boi libera metano (CH4), um dos gases que mais contribuem para o chamado efeito estufa, responsável pelo aquecimento do Planeta. O metano tem capacidade 20 vezes maior de reter o calor do que o dióxido de carbono. Dados da USP estimam que o boi responde por 12% das emissões brasileiras de gases-estufa. É só fazer as contas: entre arrotos e flatos, um boi emite por ano por volta de 100 quilos de metano. Com um rebanho de 206 milhões de cabeças, só o Brasil emite 20,6 bihões de quilos de metano/ano.

Mas até para o peido do boi existe remédio. A boa notícia saiu no jornal New York Times. Uma pesquisa realizada em Vermont nos EUA demonstrou que vacas alimentadas com alfafa e sementes com linhaça produzem quase 20% menos metano do que as que comem milho e soja. O programa é patrocinado pelo fabricante de iogurte Stonyfield Farm nas fazendas que fornecem leite orgânico. E os produtores aprovaram a mudança da dieta das vacas. "A produção de leite não caiu, e elas [as vacas] estão com
hálito mais doce, o pelo mais brilhante e parecem mais felizes", disse um deles à repórter Leslie Kaufman, do New York Times.

Os resultados da pesquisa apontam para as vantagens ambientais do chamado boi criado a pasto, como o do Pantanal e do Pampa gaúcho. O capim, segundo os cientistas, tem mais ácidos graxos ômega 3, facilitando a digestão dos bichos.

ETANOL NO PAÍS DO PRÉ SAL
Tem mais. O Brasil é líder mundial na produção e na ciência do etanol. E a substituição da gasolina pelo etanol de cana pode reduzir em 73% as emissões de CO2 na atmosfera, segundo pesquisa da Embrapa Agrobiologia, em Seropédica/RJ, que avaliou a quantidade de gases de efeito estufa produzida em cada etapa do processamento do etanol e da gasolina.

Esta pesquisa foi desenvolvida com base em dados do painel de mudanças climáticas da ONU e em medições diretamente no campo. Todo o processo foi avaliado, nas fases de emissão de gases na fabricação e aplicação de fertilizantes no campo, construção
da usina de álcool e fabricação das máquinas e tratores. O mesmo procedimento foi adotado em relação à gasolina, considerando a emissão dos gases desde a extração do petróleo até a combustão do produto nos motores dos veículos.

Os pesquisadores avaliaram um carro movido a gasolina num percurso de 100 quilômetros e as emissões de CO2 no trajeto. O resultado foi uma redução de 73%, quando utilizado o veículo movido a álcool, comparado ao movido a gasolina pura. Em relação ao diesel, a queda foi de 68%. E se a prática da queima para colheita da cana for eliminada e feita mecanicamente, os valores da redução das emissões alcançarão 82%, em relação à gasolina, e 78%, ao diesel.

Pena que o Lula, que até pouco tempo era fã de carteirinha do etanol, virou Maria Gasolina depois do pré sal.

Mas o entusiasmo do ministro Minc com a agricultura é positivo. Há alguns meses, comentando com o presidente da Embrapa sobre os atritos entre as áreas de agricultura e meio ambiente do governo, ele disse: "esta questão é muito complexa, mexe com ideologia, mexe com muita coisa. Mas eu acho que houve uma mudança do eixo da discussão. Os ministérios deixaram de lado um pouco os “achismos”, e entraram na questão técnica. Há muita pesquisa nesta área inclusive. Esta mudança de postura,
enfatizando a parte técnica, vai gerar uma solução mais conciliadora."

Nenhum comentário:

Postar um comentário