quarta-feira, 7 de julho de 2010

Morre no Rio o jovem Octávio, que renovou a velha SNA

 Abro o meu outlook e vejo uma notícia triste enviada pelo meu amigo Sebastião Guedes.

"A Sociedade Nacional de Agricultura, Academia Nacional de Agricultura e Instituto Cultural da SNA, comunicam o falecimento de seu ilustre Presidente, Doutor Octavio Junqueira Mello Alvarenga. O velório será realizado a partir das 9:00 horas e o sepultamento será às 16h:00 do dia 07 de Julho de 2010, na capela 1 do Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro".
 
Conheci pessoalmente o Octavio em novembro do ano passado, durante o congresso do SNA. Seu espírito jovial, sua fina ironia, sua elegância e inteligência o fizeram mudar os rumos de uma entidade decadente e transformá-la em ponta de lança da agricultura ecológica e orgânica.
 
Triste ironia: ele morreu justamente no dia em que ruralistas e ecologistas quebravam o pau na Câmara, em Brasília, para aprovar o relatório do Código Florestal, um tema que merecia ser avaliado e discutido com muita ciência e prudência.
 
Quando me despedi em novembro, ficamos de tomar um uísque um dia destes. Não deu. Mas faço um brinde ao simpático Octávio, e como homenagem, reproduzo abaixo o texto que escrevi sobre a SNA no dia 25 de novembro de 2009.
 
A VELHA SNA, DO OCTÁVIO, QUEM DIRIA DEU UM BAILE NA CNA DE KÁTIA

 Em vez de ficar desculpando os devastadores das florestas brasileiras, como costuma fazer a CNA (Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil), a Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), uma entidade que muitos classificam como decadente, preferiu inovar e promoveu um seminário de alto nível científico, às vesperas da COP-15, para falar sobre inovação, transparência e sustentabilidade do agronegócio.

Aos 83 anos, Octavio Mello Alvarenga (advogado, mineiro e escritor) parecia um garoto no comando do 11° Congresso de Agribusiness, que terminou na quarta-feira, 25, no Rio de Janeiro. Não por menos, inovação rejuvenesce. A SNA, com 112 anos de vida, deu um baile na CNA, da senadora Kátia Abreu. Grandes nomes do agronegócio, comprometidos com o desenvolvimento sustentável, como Roberto Rodrigues (FGV-Agro), Jean-Yves Carfantan (AgroBrasConsult), e Luiz Carlos Guedes (Banco do Brasil), estiveram por lá, discutindo temas estratégicos para o país.

No momento em que o Planeta se prepara para a Conferência Mundial sobre Clima em Copenhague, o evento mais importante deste século, a SNA reforça seus projetos inovadores como OrganicsNet.

Fundada em 1897, a SNA já foi a entidade rural mais poderosa da agropecuária brasileira. Depois da mudança da capital do Rio para a Brasília, perdeu sua força política. Nos últimos anos, porém, de forma inteligente, Octávio vem buscando projetos criativos para recuperar a influência da Sociedade. Apostou na inovação, desenvolvendo um programa de fomento à produção de orgânicos como o BID, o IDRC e o Sebrae/RJ, dirigido pela Sylvia Wachsner. O projeto cresceu tanto que começou a revitalizar a agricultura do Rio de Janeiro e hoje conta com o apoio da Secretaria Estadual de Agricultura.

Como disse Roberto Rodrigues na abertura do seminário, é hora do agronegócio sair do discurso e criar estratégia. Não adianta ficar fazendo lobby em Brasília para destruir o Código Florestal e derrubar o ministro do Meio Ambiente. Mais razoável é sentar-se à mesa para construir juntamente com os ambientalistas uma nova lei florestal: justa, viável, inteligente e que proteja tanto a agricultura quanto a natureza.

PS: até meses atrás, eu mesmo achava a SNA decadente. Revi minha posição depois deste Congresso.

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