terça-feira, 15 de dezembro de 2009

HOLOCAUSTO BOVINO: DO PARÁ À BEIRUTE


AS CENAS PODEM SER VISTAS NO YOUTUBE e lembram o transporte por trem de judeus e outros inimigos dos nazistas durante o Holocausto. Bois são tocados para dentro de navios, onde viajam amontoados nos porões por várias semanas em condições “desumanas”: quase sem água, com pouca comida, sem espaço para se moverem ou deitarem. De cada dez animais que embarca, um não chega. Muitos deles morrem pisoteados durante a longa jornada.

Do Pará, no Brasil, até Beirute, no Líbano, são três semanas de viagem pelo mar. Antes de embarcar, eles são transportado comprimidos em caminhões até o porto, sem receber água e nem comida. Os que caem são pisoteados. Quando chegam ao porto, esperam por várias horas e até dias para o embarque, presos no caminhão.

São conduzidos ao navio com a utilização de bastões elétricos, o que aumenta o estresse dos bois já enfraquecidos. Desidratação, ferimentos e doenças respiratórias causam
uma alta taxa de mortalidade. Quando chegam ao destino, os animais precisam enfrentar mais estrada até os frigoríficos.

CLIQUE AQUI PARA VER:
http://www.youtube.com/handlewithcaretv#p/u/5/I7Y8pw7oQzQ


BOM NEGÓCIO?

As exportações brasileiras de bois vivos para o Líbano e Venezuela, principalmente, conseguiu este ano aliviar as contas de muitos pecuaristas, que enfrentaram uma forte redução na renda, por conta da grande redução das vendas externas de carne bovina. A previsão para este ano é de exportação de mais de 450 mil animais. Este ano, a queda da receita dos frigoríficos com exportações deve chegar a 22%. Como resultado, o preço da arroba do boi caiu de R$ 90 para R$ 75.

Para pagarem suas contas, muitos pecuaristas recorreram à exportação de gado em pé, prática que pode mais uma vez comprometer a imagem da pecuária brasileira no exterior, a exemplo do que ocorreu recentemente com os rebanhos da Amazônia, devido aos desmatamentos na floresta.

É que a Sociedade Mundial de Proteção Animal divulgou um extenso relatório sobre a exportação de gado vivo. O dossiê, elaborado pelo professor Reinaldo Gonçalves (Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), calcula entre 14% e 27% as perdas econômicas decorrente da exportação de gado vivo, se comparada à venda de carne congelada/resfriada, couro e subprodutos.

Pior ainda: o dossiê apresenta dados que comprovam que a exportação de gado em pé causa sofrimento animal, tem alta taxa de mortalidade --10% dos bois chegam mortos ao destino --, provoca lesões, diminui a oferta doméstica, contribuiu para a queda da qualidade da carne, além de reduzir o valor agregado, a arrecadação tributária e os empregos no Brasil. No mercado internacional, o preço médio da carne congelada é duas vezes maior do que o preço médio do quilograma do bovino vivo.

VEJA AQUI O RELATÓRIO COMPLETO:
http://www.wspabrasil.org/latestnews/2009/Brasil-perde-50-milhoes-por-ano-com-exportacao-de-gado-em-pe.aspx


QUALIDADE ÉTICA

“O Brasil precisa dar valor à qualidade ética da carne”, diz Charli Ludtke, gerente de Animais de Produção da Sociedade Mundial de Proteção Animal. Segundo ela, os bois exportados pelos pecuaristas brasileiros enfrentam longas viagens, em jornadas que duram às vezes mais de três semanas em situações precárias.

Ingrid Eder, da WSPA Brasil, o abate humanitário, realizado em um frigorífico próximo à fazenda onde os animais foram criados, não só terminaria com a crueldade do transporte por longas distâncias como criaria empregos e geraria arrecadação de tributos no Brasil. Com essa medida, além dos animais serem poupados do sofrimento da viagem, o país exportador estaria contribuindo para o desenvolvimento da sua cadeia produtiva e da comunidade local.

A maior parte do gado embarcado (430 mil em 2007) segue para a Venezuela e para o Líbano. O curioso é que o Líbano, país de maioria mulçumana, é um grande consumidor de alimentos Halal, norma islâmica que busca restringir ao máximo o sofrimento dos animais no momento do abate.

OUTRO LADO

Fabiano Ribeiro Tito Rosa, da Scot Consultoria, dedicou a última edição da Carta do Boi ao tema. Ele criticou duramente o dossiê da Sociedade Mundial de Proteção Animal.

"São informações enviezadas, que não consideram todos os lados do tema analisado", disse Rosa. Para o analista, novas alternativas de comercialização, como as exportações de gado em pé, contribuem para a manutenção de preços mais equilibrados, que geram estímulos a investimentos.

A Carta, porém, não faz nenhuma referência às condições precárias de viagem a que os animais são submetidos, em total desrespeito às normas internacionais de bem-estar animal.

http://www.scotconsultoria.com.br/newsletter/images/091214_Vantagensemaisvantagensdaexportaçãobrasileiradegadoempé_def.pdf


OPORTUNIDADES DESPERDIÇADAS
O que eu tenho a ver com isto? Poderia me perguntar um pecuarista brasileiro.
De fato, o Brasil é responsável pelos animais até o embarque. O que acontece durante a viagem no navio é de responsabilidade do comprador. Ele compra o número de animais que embarcam.
Mas a imagem que fica lá fora é da pecuária brasileira e da carne brasileira. O Brasil tem tudo para conquistar o novo consumidor global, que exige bem-estar animal, alta qualidade do produto, compromisso com a preservação ambiental e responsabilidade social. Temos o boi pantaneiro e o boi dos pampas. Temos o boi verde, que pasta livre pelos campos e produz uma carne magra, altamente saudável e nutritiva. O que estraga tudo é o imediatismo do pecuarista.

3 comentários:

  1. Dizer que o pecuarista é imediatista, quando formar uma fazenda demora de 10 a 20 anos, é um tremendo besteirol.

    Pecuarista pensa em longuíssimo prazo. Respeita a natureza, pois conhece a força da natureza como ninguém.

    A pecuária brasileira é decente e competente.A firmações contrárias dizem respeito às exceções.

    E para arrematar, no que diz respeito à Carta Boi, no final dela, sugerimos uma pauta que envolva a adoção de boas práticas de produção, inclusive no transporte de animais a longas distâncias.

    É isso aí.

    P.S. Ressalto que o Brasil não necessita copiar "normas internacionais", o MAPA tem suas próprias normas, estabelecidas por técnicos brasileiros que conhecem nossas condições. Não saber sobre elas não significa que elas não existam no Brasil.

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  2. Obrigado pelo seu comentário, Alcides. É sempre bem-vindo. Mas continuo achando que a Carta do Boi, em sua análise sobre a exportação de gado em pé, praticamente ignorou o problema principal, que mais uma vez amaeaça a imagem da pecuária brasileira não apenas lá fora como aqui no Brasil: as terríveis condições de transporte dos animais. Eu particularmente se soubesse não comeria um bife se soubesse que ele foi tirado de um boi que foi submetido a sofrimento desnecessário. E você?

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  3. .
    Prezado Bruno

    Obrigado pela réplica.

    Você deve saber que todo o rebanho brasileiro é transportado vivo (em caminhões, em balsas, a "pé") e ultimamento em navios e em aviões. As normas para o transporte adequado estão estabelecidas e em constante aperfeiçoamento.

    Com certeza o suculento e saboroso bife que você consome provém de sistemas que adotam boas práticas de produção. De fio a pavio. Do contrário essa carne seria intragável. Portanto, pode ficar tranquilo.

    A posição que a pecuária brasileira ocupa no mercado interno e externo não foi conquistada por acaso ou por um golpe de sorte. Foi com trabalho bem feito e muito, muito sacrifício de pioneiros e desbravadores/colonizadores. A carne brasileira é um alimento de boa qualidade, nutritivo, saboroso e, barato.

    Essas qualidades e o emprenho dos brasileiros é que têm incomodado os concorrentes. Em função disso toda sorte de obstáculos ao nosso industrialismo agropecuário são levanatadas. Até por quem tem boas intenções, inocentes úteis.

    Concordo que a imagem da pecuária precisa ser bem cuidada e foi por isso que emitimos a nossa opinião. O estudo meia-boca divulgado pela ong, é destrutivo. Não soma,subtrai.

    É isso.

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