Comprar um medicamento "pros nervos” ou qualquer remédio de receita controlada, tornou-se uma tarefa tão (ou mais) complicada do que adquirir um baseado. Não que eu fume! Longe disso. Só sei das coisas. Tamanha é a burocracia para comprar a droga da farmácia, que o atendente vira de regra se confunde.
Eu que esporadicamente peço ao meu irmão psiquiatra, o traficante da família, uma receitinha de Frontal para sossegar o facho --ninguém é de ferro-- , às vezes tenho vontade de ficar a seco, só para escapar dos formulários.
Fosse só a burocracia, tudo bem, o duro é o vexame que o farmacêutico te expõe. Basta você aparecer com uma receitinha azul e, pronto, eles fazem você se sentir uma espécie de Fernandinho Beira Mar.
O sujeito pega a receita como se fosse uma nota de R$ 100. Aliás, nota de R$ 100 dá outra crônica, mas deixamos prá lá. Ele examina detalhadamente cada dado, cada vírgula, observa a receita contra a luz, te encara nos olhos, examina novamente a receita, te encara nos olhos, e finalmente chama o superior:
-Ô Sampaio, vêm cá um pouco, diz ele, com jeito de quem pegou um malandro.
Bom, o Sampaio vem caminhando lentamente até o balcão, com um sorriso maroto nos lábios, pega a receita azul, e volta a examinar detalhadamente. Te encara, olha o verso da receita (sei lá por quê), te encara de novo, e pergunta:
-É para o senhor?
A vontade que me dá é dizer. Não, seu cretino, é prá revender lá morro do Borel. Mas fico quieto -- para não dar bandeira, tá ligado?
- Sim, é para mim.
- Obrigado, senhor. Aguarde mais um momento.
Ai por algum procedimento da Anvisa ou da Delegacia de Entorpecentes, sei lá eu, o cara começa a ditar, em voz alta, a receita para o colega: "Frontal, ansiolítico, 0,5 miligramas, para o Sr. Bruno Blecher, morador da rua fulano, número tal, telefone zero onze, meia sete, sete um, três, quatro, cinco seis.
Nesta altura, a farmácia inteira está me olhando. E eu, vermelho feito mercúrio-cromo, vou me esgueirando, fico pequeno, e tento me esconder debaixo do envelope de Sonrizal. Uma senhora, meio "caidona", de uns 80 e tantos anos, lá adquirindo seu remédio para Mal de Parkison ou coisa que o valha, me olha com um sorrisinho cúmplice: Tá vendo? pensa que é só eu? A idade chega! A gostosa que foi lá só para comprar modess, me fita os olhinhos lindos, meio marejados: “tadinho, coroa meio gato (a crônina é minha!), parece tão novo e já tomando remédio pra dormir!”
Mas o que aconteceu na farmácia aqui na praia foi hilário. O atendente me tomou a receita azul e resolveu preencher ele mesmo os dados: o seu documento, por favor! Parecia um tira do Denarc.
- Claro. Entreguei a ele a carteira de jornalista, onde estão todos os meus números.
O cara olhou detidamente todos os dados da carteira e começou a preencher calmamente o formulário. A impressão que dava é que ele estava preechendo um formulário da Casa Branca, onde o Barak Obama autorizava a Usaf, a Força Áerea dos Estados Unidos, a bombardear o Irã, tamanho o cuidado do sujeito. Ao final, meia hora depois, ele se virou para mim e disse:
- Está tudo ok, senhor Jacob. Aqui estão as caixas do seu calmante, e o senhor pode pagar no caixa.
Jacob, para quem não sabe, é o meu pai, 85 anos, que dorme feito um anjo às 11h30 em ponto, sem precisar de uma gota de Frontal.
Que país ridículo,não??
ResponderExcluirPrezado Bruno..feliz por seu pai viu???
Um abraço e parabéns por seu blog !
Ginha.