quarta-feira, 10 de março de 2010

PAGAMOS O MICO DO PÃOZINHO CARO

Dou a mão à palmatória ou, para ser mais atual, pago o mico. O ministro Stephanes tem toda a razão. Falar em aumento do preço do pãozinho, como consequência de um eventual aumento da alíquota de importação do trigo americano, é terrorismo.

O pior é que, não apenas este colunista, mas a maioria da imprensa brasileira -- Estado, Globo, Zero Hora, Jornal do Comércio, Jornal da Globo, Diário do Grande ABC e por ai vai -- caiu no conto do pãozinho, aceitando sem checar os argumentos da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo).

Segundo a Abitrigo, a inclusão do trigo na lista de produtos americanos que terão sua alíquota de importação majorada, por conta de uma eventual retaliação brasileira aos subsídios dos EUA a produtores de algodão, poderia resultar em aumento dos preços dos derivados, principalmente massas e pão.

"Tendo em vista a insuficiência da produção de trigo no Brasil para atender ao consumo e a recorrente incerteza no que diz respeito ao fornecimento do trigo argentino, os moinhos brasileiros são obrigados a importar trigo para atender à demanda interna. Uma das fontes de suprimento preferidas são os Estados Unidos, por motivos de preço, qualidade e sobretudo proximidade do mercado consumidor, no caso, particularmente os moinhos do Nordeste", diz a nota da Abitrigo.

Pura chantagem emocional. Em um país miserável como o Brasil, qualquer ameaça de aumento do preço do pão é manchete na certa, ainda mais em ano eleitoral. Em 1985, o jornalista Boris Casoy deixou o Eduardo Suplicy, então candidato a prefeito de São Paulo, com cara de patso em rede nacional ao lhe perguntar o preço do pãozinho na padaria. Se não me engano o outro candidado, Fernando Henrique Cardoso, também não soube responder. Jânio Quadros, que não compareceu ao debate, ganhou as eleições. Desde então, a primeira coisa que os candidatos checam antes de entrar em qualquer debate é o preço do pãozinho.

Mas voltando à vaca fria, coube ao ministro Reinhold Stephanes, da Agricultura, destruir o argumento da Abitrigo.

-- Podemos importar trigo da Rússia, Canadá e da União Europeia, como opção aos EUA. Em 2009, importamos dos EUA apenas 5% das nossas necessidades de trigo.

O empresário Lawrence Pih, diretor-presidente do Moinho Pacífico e conselheiro da Abitrigo, questionou os dados da associação.

-- É um equívoco. Primeiro, porque a retaliação ainda não foi aplicada. Há um prazo de um mês para negociações entre o Brasil e os EUA. E ainda que a alíquota seja de fato majorada, não haverá qualquer impacto sobre os preços da farinha ou do pão no Brasil. Não precisamos importar o produto americano, temos outras fontes.

Pelos cálculos de Pih, se o Brasil tiver que importar trigo dos EUA, será uma quantidade pequena, algo em torno de 400 mil toneladas. Ou seja: só o farelinho.

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