domingo, 13 de dezembro de 2009

O VELHO JACOB, 85, VIROU TRAFICANTE DE ANSIOLÍTICO

Comprar um medicamento "pros nervos” ou qualquer remédio de receita controlada, tornou-se uma tarefa tão (ou mais) complicada do que adquirir um baseado. Não que eu fume! Longe disso. Só sei das coisas. Tamanha é a burocracia para comprar a droga da farmácia, que o atendente vira de regra se confunde.

Eu que esporadicamente peço ao meu irmão psiquiatra, o traficante da família, uma receitinha de Frontal para sossegar o facho --ninguém é de ferro-- , às vezes tenho vontade de ficar a seco, só para escapar dos formulários.

Fosse só a burocracia, tudo bem, o duro é o vexame que o farmacêutico te expõe. Basta você aparecer com uma receitinha azul e, pronto, eles fazem você se sentir uma espécie de Fernandinho Beira Mar.

O sujeito pega a receita como se fosse uma nota de R$ 100. Aliás, nota de R$ 100 dá outra crônica, mas deixamos prá lá. Ele examina detalhadamente cada dado, cada vírgula, observa a receita contra a luz, te encara nos olhos, examina novamente a receita, te encara nos olhos, e finalmente chama o superior:

-Ô Sampaio, vêm cá um pouco, diz ele, com jeito de quem pegou um malandro.

Bom, o Sampaio vem caminhando lentamente até o balcão, com um sorriso maroto nos lábios, pega a receita azul, e volta a examinar detalhadamente. Te encara, olha o verso da receita (sei lá por quê), te encara de novo, e pergunta:

-É para o senhor?
A vontade que me dá é dizer. Não, seu cretino, é prá revender lá morro do Borel. Mas fico quieto -- para não dar bandeira, tá ligado?
- Sim, é para mim.
- Obrigado, senhor. Aguarde mais um momento.

Ai por algum procedimento da Anvisa ou da Delegacia de Entorpecentes, sei lá eu, o cara começa a ditar, em voz alta, a receita para o colega: "Frontal, ansiolítico, 0,5 miligramas, para o Sr. Bruno Blecher, morador da rua fulano, número tal, telefone zero onze, meia sete, sete um, três, quatro, cinco seis.

Nesta altura, a farmácia inteira está me olhando. E eu, vermelho feito mercúrio-cromo, vou me esgueirando, fico pequeno, e tento me esconder debaixo do envelope de Sonrizal. Uma senhora, meio "caidona", de uns 80 e tantos anos, lá adquirindo seu remédio para Mal de Parkison ou coisa que o valha, me olha com um sorrisinho cúmplice: Tá vendo? pensa que é só eu? A idade chega! A gostosa que foi lá só para comprar modess, me fita os olhinhos lindos, meio marejados: “tadinho, coroa meio gato (a crônina é minha!), parece tão novo e já tomando remédio pra dormir!”

Mas o que aconteceu na farmácia aqui na praia foi hilário. O atendente me tomou a receita azul e resolveu preencher ele mesmo os dados: o seu documento, por favor! Parecia um tira do Denarc.
- Claro. Entreguei a ele a carteira de jornalista, onde estão todos os meus números.
O cara olhou detidamente todos os dados da carteira e começou a preencher calmamente o formulário. A impressão que dava é que ele estava preechendo um formulário da Casa Branca, onde o Barak Obama autorizava a Usaf, a Força Áerea dos Estados Unidos, a bombardear o Irã, tamanho o cuidado do sujeito. Ao final, meia hora depois, ele se virou para mim e disse:

- Está tudo ok, senhor Jacob. Aqui estão as caixas do seu calmante, e o senhor pode pagar no caixa.
Jacob, para quem não sabe, é o meu pai, 85 anos, que dorme feito um anjo às 11h30 em ponto, sem precisar de uma gota de Frontal.

Um comentário:

  1. Que país ridículo,não??
    Prezado Bruno..feliz por seu pai viu???
    Um abraço e parabéns por seu blog !
    Ginha.

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